quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Arquitectura Bioclimatica


Isto é uma entrevista feita pela Saint Gobain Glass que encontrámos na internet e achámos produtiva por isso vamos publicá-la. O entrevistado é o arquitecto Jorge Graça Costa.


Saint Gobain Glass – O que é a Arquitectura Sustentável?

Jorge Graça Costa – Para entendermos o que é a Arquitectura Sustentável temos que perceber primeiro o que é de facto o desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento sustentável poderá ser definido muito resumidamente como a melhoria da qualidade de vida a curto prazo, sem comprometer a qualidade de vida a longo prazo. Pode-se ainda considerar que a sustentabilidade abrange três vectores distintos – vector ambiental, vector social e vector económico.

A arquitectura sustentável é então aquela que engloba de uma forma holística estes três vectores tendo como condição primária o objectivo de que todos os membros da sociedade possam determinar e atingir as suas necessidades sem comprometer a possibilidade das gerações futuras poderem atingir as suas.

SGG – E como se enquadra nesse contexto a Arquitectura Bioclimática?

JGC – Discute-se cada vez mais a racionalização da energia e, por outro lado, o consumo de energia aumenta na mesma proporção em que as condições de habitabilidade exigem uma climatização mais eficaz, aumentando consequentemente o consumo dos recursos naturais. É ainda de assinalar, o crescente consumo de energia eléctrica no arrefecimento e na iluminação dos edifícios modernos, mais comandados pelas cargas internas e ainda penalizados pela forte radiação solar, pois são muitas vezes projectados menosprezando o clima. A busca de soluções inovadoras e de uma organização espacial, nem sempre tem em mente a preocupação ambiental da racionalização de energia e do conforto do utilizador.

A aplicação de princípios bioclimáticos em edifícios é um factor essencial para a redução do consumo energético e das emissões de Carbono no sector dos edifícios. A Arquitectura bioclimática é aquela que, durante o projecto do edifício, tem em conta as condições climáticas a que estará sujeito o edifício e a utilização de sistemas solares passivos, de forma a aumentar a eficiência energética. A Arquitectura Bioclimática (arquitectura da alta eficiência energética) pressupõe a satisfação de exigências de conforto térmico de modo sustentável, isto é, moderação na utilização de recursos energéticos e contenção na degradação ambiental. Como tal, e sabendo que um edifício bioclimático pode consumir 10 vezes menos energia para aquecimento do que um edifício convencional, este tipo de arquitectura revela-se uma boa opção para o aumento da eficiência energética dos edifícios. O custo adicional de um edifício bioclimático ronda os 3-5% para edifícios novos. Este investimento inicial será amortizado em poucos anos tendo em conta a vida útil do edifício pelo que, em termos ambientais e em termos económicos, os edifícios bioclimáticos são largamente compensadores.

SGG – Como se enquadra a sua arquitectura e estas preocupações de um modo efectivo? Pode-nos dar um exemplo concreto?

JGC – Quando inicio qualquer projecto, independentemente da sua escala, tenho sempre presente a definição de sustentabilidade existente no relatório ”Our Common Future” de 1987, elaborado pela Sr.ª Primeira-Ministra Norueguesa, Gro Brundtland: “O desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as nossas necessidades sem comprometer a possibilidade das futuras gerações satisfazerem as suas.”

Pressupõe-se então que o ideal será o edifício resistir à passagem do tempo, adaptar-se a diferentes necessidades, permitindo a continuidade da sua função e eventualmente comportar diferentes usos, integrando uma visão holística de sustentabilidade incorporando em todo o processo uma gestão racional dos recursos como a energia, a água e impacto dos matérias utilizados na construção (entre outros factores a ter em linha de conta).

Foi com base nestas premissas que foi elaborado o projecto Casa DT, um edifício unifamiliar localizado em Oeiras, este projecto de Arquitectura Sustentável foi desenvolvido com directrizes muito fortes em relação ao respeito pelo ambiente e eficiência energética e pretende incorporar, à sua escala, uma forte mensagem em prol da sustentabilidade.

Este projecto comprova que é possível através da gestão racional dos recursos, exploração do potencial climático do local, dos materiais e tecnologias modernas garantir a integração do conforto humano na habitação. A conjectura destes factores traduziu-se numa notável mais valia a nível da economia de projecto e da sustentabilidade ambiental através da gestão racional dos recursos ambientais e energéticos.

SGG – Qual é o estado da arte para a resolução desta problemática?

JGC – A concepção de edifícios tem sofrido uma importante transformação devido aos aspectos energéticos e ambientais que lhes estão associados. O Protocolo de Quioto impõe um tecto nas emissões para a atmosfera de dióxido de carbono e outros gases responsáveis pelo aumento do efeito de estufa que contribuem para o aquecimento global. Para isso, impõe-se a criação de mecanismos de actuação e a definição de políticas de curto e médio prazo que reduzam as emissões daqueles gases. Este grande objectivo é portanto um compromisso nacional que tem de envolver toda a sociedade, sob a liderança da Administração, a quem compete coordenar todas as acções que levem ao resultado desejado.

O dióxido de carbono, o mais representativo de entre os gases que contribuem para o aquecimento global, resulta essencialmente da combustão de combustíveis fósseis, para a produção de calor e de electricidade ou fonte motriz nos transportes. Dado que a energia é repartida pelos vários sectores de actividade, nomeadamente a indústria, os edifícios (residenciais e de serviços) e os transportes, torna-se necessário estabelecer medidas de actuação, de âmbito sectorial, que conduzam ao estabelecimento de "quotas" de emissões por sector, para que seja possível gerir a respectiva contribuição para o objectivo global.

Portugal é um país fortemente dependente das importações de combustíveis fósseis (Petróleo, Carvão e Gás Natural). . O actual modelo baseado na queima de combustíveis fosseis é insustentável. A alternativa é mudarmos o paradigma e apoiarmos um modelo energético baseado na eficiência energética e nas energias renováveis. O que poderá ser fortemente impulsionado com a legislação em vigor do novo RCCTE.

SGG – E para onde vamos? Quais são as “novas” boas práticas que o mercado implica e reclama sobre esta matéria?

JGC – Sempre defendi que cabe aos Arquitectos, durante o acto da concepção arquitectónica inovar e modernizar, mas para além disso deverão incluir procedimentos projectuais que permitam a racionalização dos recursos energéticos, proporcionando um Desenvolvimento Sustentável com base na Eficiência Energética, recorrendo à gestão racional dos recursos apoiado por fontes de energia renováveis tirando proveito dos benefícios económicos e ambientais que daí poderão advir.

A elaboração de projectos de Arquitectura justifica ainda uma crescente reflexão sobre o modo como os técnicos encaram o desenvolvimento dos mesmos. Tendo em conta as condições climáticas locais, conforto no interior dos edifício e a rentabilidade económica do mesmo, a legislação recentemente aprovada, tem como objectivo promover a melhoria do desempenho energético dos edifícios tornando simultaneamente obrigatório a sistemas de energia solar térmica devido aos benefícios ambientais e económicos obtidos.

SGG – Como relaciona a Arquitectura Sustentável com o vidro? E como o tema se relaciona com estas novas boas práticas?

JGC – Um dos factores ambientais a de a ter em linha de conta em qualquer projecto é a relação visual interior/exterior e a maximização da iluminação natural, contribuindo para a diminuição dos consumos em iluminação artificial, o que é conseguido através de elementos translúcidos (elementos não opacos), a solução mais eficaz para satisfazer este requisito é a incorporação de elementos vítreos na construção.

O vidro é considerado como envolvente não-opaca no entanto é de notar que as principais trocas térmicas numa edificação acontecem geralmente a partir destes elementos transparentes como as janelas, clarabóia (iluminação zenital), e outros. Trocas por condução e convecção (comportamento semelhante ao dos elementos opacos mas com a possibilidade do controlo das trocas de ar entre o interior e exterior, abrindo ou fechando estes elementos).

A radiação é de longe o principal factor a ter em linha de conta porque uma parcela significativa é transmitida para o interior do edifício. O que pode ser um grande aliado a nível da Arquitectura Bioclimática quando estes elementos são bem orientados e bem dimensionados, pois permite ganhos solares no Inverno o que ajuda a manter as temperaturas interiores próximas da zona de conforto térmico. No Verão o uso de protecções solares em elementos não opacos é um recurso importante para reduzir os ganhos térmicos excessivos e o melhor modo de protecção é a protecção externa (fixas ou móveis) dimensionada adequadamente, podem garantir a redução da incidência da radiação quando necessária sem interferir na iluminação natural.

Existem diferentes tipos de vidros, com capacidades distintas pois podem absorver, reflectir ou transmitir radiação solar. No projecto da Casa DT (Casa Sustentável em Oeiras) o projecto acompanhado pela equipa técnica da SGG desde o inicio tendo em vista a eficiência energética e o conforto térmico como um objectivo primordial a atingir, com este objectivo em mente foram estudadas em conjunto pelo atelier com o valioso acompanhamento da SGG, as melhores soluções atendendo à dimensão e orientação dos vãos, permitindo deste modo ganhos solares muito significativos no Inverno a Sul. Este e outros factores tidos em linha de conta no projecto permitiram verificar (através de uma simulação dinâmica) que a Casa DT necessita 3 vezes menos energia no Inverno e 4 vezes menos energia no Verão, quando comparada com uma casa de igual valência, o que na prática se traduz em ausência de necessidades de arrefecimento n Verão e uma diminuição significativa de consumos energético (quase inexistentes) para o aquecimento no Inverno. A poupança de consumos energéticos (aquecimento, arrefecimento e iluminação) foi convertida em emissões de CO2 calculadas segundo o Protocolo de Gases de Efeito de Estufa (GHG Protocol Corporate Accounting and Reporting Standard), sendo evitadas o total de 8 toneladas de emissões de CO2.

Calculando o efeito cumulativo de emissões de gases com efeito de estufa (CO2) até 2050. Verifica-se que a Casa DT poupará cumulativamente até 2050 cerca de 350 toneladas de CO2, quando comparada com uma casa de igual valência, o que é realmente significativo se pensarmos nestes números a uma escala maior.


Fonte
http://pt.saint-gobain-glass.com/newsletter/out2007_02_home.html